CARRO DE BOIS: rodas de Pau.
Textos e Fotografias: Marinelton Cruz
O homem e seu carro |
“Boeiro” em Portugal, “carreta” nos pampas gaúchos e “cambona” em algumas regiões do interior do Brasil, o carro de boi já era conhecido dos chineses e hindus. Também os egípcios, babilônios, hebreus e fenícios utilizavam o transporte “via bois”. Mais tarde, os europeus, quando se lançaram à colonização da África e da América, fizeram do boi um item indispensável da carga das caravelas.
A Luta |
Tomé de Sousa – primeiro governador-geral do Brasil – trouxe consigo carpinteiros e carreiros práticos e, em 1549, já se ouvia o “cantador” nas ruas da nascente cidade de Salvador. A presença do carro de bois também é mencionada no “Diálogo das Grandezas do Brasil”, de Ambrósio Fernandes Brandão (segundo Capristano de Abreu, páginas 38 e 64, 1956): “É necessário que tenha (…), 15 ou 20 juntas de bois com seus carros necessários aparelhados (…)”, e mais adiante, “A vaca, sendo boa, é estimada a (…), e o novilho, que serve já para se poder meter em carro, a seis e a sete mil réis (…)”.[
Nos primeiros tempos da colonização, além de manter em movimento a indústria açucareira - da roça ao engenho, do engenho às cidades, o carro de bois mobilizava a maior parte do transporte terrestre durante os séculos XVI e XVII. Transportavam materiais de construção para o interior e voltavam para o litoral carregados com pau-brasil e produtos agrícolas produzidos nas lavouras interioranas. No Brasil colonial, além dos fretes, o carro de bois conduzia famílias de um povoado para outro – muitas vezes transformado em “carro-fúnebre” e os carreiros precisavam lubrificar os cocões para evitar a cantoria em hora imprópria.
No início do séculos XVI, o carro de bois era ainda absoluto no transporte de carga e de gente. No Sul, no Centro, no Nordeste, era indispensável nas fazendas. No Rio Grande do Sul as carretas conduziam para a Argentina e para o Uruguai a produção agrícola. Na Guerra do Paraguai, os carretões transportaram munições, víveres e serviram ainda como ambulâncias.
Em meados do séculos XVIII, entretanto, com o aparecimento da tropa de burros, o carro de bois perdeu sua primazia. Mais leves e mais rápidos, os muares não exigiam trilhas prévias e terrenos regulares. No final do século, vieram os cavalos para puxar carros, carroças e carruagens, e o carro de bois foi proibido por lei de transitar no centro das cidades, ficando o seu uso restrito ao meio rural
O ambiente do Boeiro |
Os veículos motorizados aceleraram o processo de decadência do carro de bois no Brasil, na Argentina, em Portugal, na Espanha, na Grécia, na Turquia, no Irã, na Indonésia e na Malásia. Contudo, em todos esses lugares, artesãos continuaram a construí-los e a aperfeiçoá-los e, graças a essa gente, o carro de bois persiste na sua marcha pela história.
Introduzido pelos colonizadores portugueses o carro de boi difundiu-se por todo o país, existindo ainda no meio rural nordestino
O carro de boi foi um dos principais meios de transporte utilizados para transportar a produção das fazendas para as cidades, mas ainda é utilizado em algumas regiões do país.
Em alguns municípios, como em algumas regiões do interior brasileiro, ainda há fazendeiros que realizam mutirões de carros de bois para transportar suas produções agrícolas e também outros produtos. O som estridente característico do carro de bois, chamado de canto, lamento ou gemido, também faz parte da nossa cultura.
O carro de boi por sua representação constitui uma particularidade do patrimônio tradicional maranhense. Nos município de Cururupu, Guimarães< Pinheiro, Bacuri, Apicum Açú Turiaçú dentre outros este instrumento esta presente por toda a extensão da produção agrícola e resiste aos avanços tecnológicos no ramo dos transportes. A utilização do carro de boi para transportar carga remonta séculos, desde o inicio da colonização nas terras da baixada maranhense até os dias atuais.
As formações das antigas fazendas tiveram no carro de boi a mais importante estrutura para o desenvolvimento da produção e do comercio, pois somente este era utilizado para carregar os produtos, movimentavam a economia do período colonial do interior maranhense. Na atualidade o mesmo carro de boi continua imponente trafegando nos caudalosos caminhos sulcados em profundas barreiras, que por suas particularidades, impedem o trafego de outros meios de transportes. Os caminhos são estreito por serem feitos conforme o carro trilha, sendo rasgados por entre o matagal, o tempo e as variedades do solo, vão traçando os sulcos, cavados em certas partes até três metros de altura, formando barreiras sinuosas ao longo do percurso.
A parelha e boiero |
Os carros de boi são constituídos por: uma carroceria que se assemelha as carrocerias de carroças traçadas a jegues; com a diferença de que as dos carros de bois possuem apenas uma peça central e uma canga com duas alças que prendem dois bois no pescoço, no meio da carroceria passa o eixo que prende as rodas com... metros de diâmetro. constituem uma particularidade do patrimônio cultural de Cururupu, são utilizado no transporte de cargas e de pessoas.
Ao longo do tempo a população da zona rural tem este transporte serve como a principal forma de viajar aos distantes locais de trabalhos, por caminhos acidentados, as idas e vindas dos carros de bois com suas grandes rodas de madeira, fincam nas estradas sulcos que medem até três metros de altura, assim os viajantes quando partes dos caminhos ficam intrafegáveis, substituem por outros caminhos paralelos.
No Maranhão, o carro de boi é usado como meio de transporte perincipalmente no trabalho da lavoura da roça no toco, que impossibilita a sua substituição: pois as rodas de madeira e ferro, resistem as farpas e tocos das arvores derrubadas nas roças, enquanto que as rodas de borrachas não resistem.
O carro de boi subsistirá enquanto existir a lavoura de roçado para queimar.
As trilhas dos carros de bois são um conjunto de caminhos presentes por toda zona rural do
O Caminho (Trilha) |
Maranhão, sinalizando a movimentação e o deslocamento dos habitantes do interior.
Estrutura física do carro de boi
O carro de é fabricado em pequenas oficinas espalhadas pela sede e interior do município, por mestres artesãos da carpintaria tradicional do Maranhão.
A principal peça que é a estrutura central do carro que liga atração (os bois) a mesa (carroceria) é chamado de cabeçalho; numa extremidade a que prende os bois; está a canga fixa pelo engate que atravessa a ponta do cabeçalho por nome Xaveta. A Xaveta e amarrada por uma corda de coro (Tamoeiro) para fixar no cabeçalho.
Na Canga estão duas pequenas peças, uma de cada lado, a está peça da-se o nome de cansir ou Cansio: deles saem duas cordas de couro chamadas de brochas;que fixa o pescoço dos bois na canga.
Na outra parte do cabeçalho que corresponde as rodas, está a mesa (carroceria) o chão da mesa é formado por um conjunto de peças, descritas a seguir:
os ricavens são duas vigas de madeiras quem atravessam o cabeçalho, na diagonal, sendo que o cabeçalho os suporta no meio formando o suporte; para forma a parte da frente e de traz da mesa; as extremidades dos recavens do lado direito e esquerdo no sentido vertical formando um par estão as Xedas.
Presas como suporte do assoalho da mesa por onde vão ser estendidas as tabuas da mesma; saem um conjunto de 6 (seis) peças chamadas “Relhas”, e ainda se4parando as ditas relhas em dois conjuntos de três está o “relhão”.
A mesa tem como suportes laterais para segurar a carga do carro duas peças; chamadas de Sèbias as Sébias são formadas por outras peças enfiadas gume das xedas que recebem a denominação de fueiros por eles; são atravessadas varas formando uma esteiras de madeira (Taipás).
Os carros possuem duas grandes rodas, construídas com madeiras de lei. Estas rodas são formadas por três partes: a central; e as laterais, ou o meio e as bordas: no meio de cada roda estão as partes chamadas de mião., nestas estão os buracos onde fixão as partes estremas do Eixo denominadas As partes laterais das rodas são conhecidas como encostos e meia lua. As os ferros são arcos de ferro que circundam as rodas para garantir a junção das partes das rodas e oferecer resistência no desgastes das mesmas.
As rodas são presas no eixo por meio de um engate chamado mião que possui um receio chamado contra-mião,que assenta no eixo possibilitando a movimentação do eixo numa circulação sobre si. Para que isto ocorra existem duas outras peças de junção fixas uma de cada lado nas xedas em que extremidades destas peças que se prendem no eixo, são em forma de garfo; à estas peças dar-se o nome de cantadeiras; da fricção destas peças com o eixo saem o som característico do carro de boi quando se movimenta.
O eixo e o Mião |
O fogão do boeiro na casa de forno |
A Casa de forno, para onde se canaliza a principal carga do Carro de bois. |
Trado;
Batola:
Raspadeira;
Machado;
Graminio;
Gastalho;
Trena;
Mancêta;
Formãos;
Marinelton dos Santos Cruz, 48 anos, é natural do município de Cururupu. Filho do pescador Hilton Cruz e de Ana Maria dos Santos Cruz, nasceu na comunidade de Guará (arquipélago de Maiaú) em 1964. È pesquisador autodidata e está graduando em Ciências Naturais na UFMA. Trabalhou como Assessor de Pesca na Prefeitura Municipal de Cururupu.de 2006 a 2012. É colaborador no Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Estado do Maranhão (CPHNAMA); sob orientação do mesmo centro, desenvolve a pesquisa: CURURUPU: origens e Evolução e Costa Amazônica do Maranhão.Como fotógrafo e pesquisador têm vários trabalhos incluídos em publicações especializadas em turismo no Maranhão, tais como, a revista Caminhos do Maranhão, Suplemento JP Turismo (Jornal Pequeno) e no jornal O Imparcial.Realizou várias exposições fotográficas, dentre as quais se destacam “CURURUPU: Litoral e aspectos Históricos”, durante a FEIRA DO EMPREEDEDOR (São Luís, 2005); “Reserva Extrativista Marinha de Cururupu” (Cururupu, 2005), e “MAIAÚ: Sobre a pesca artesanal no Litoral Ocidental do Maranhão” (Cururupu, 2005). O autor possui amplo registro em fotografias e videoclipes sobre comunidades quilombolas rurais, e sobre as ilhas do arquipélago de Maiaú e da Reserva Extrativista Marinha de Cururupu; de onde foi Conselheiro Titular no período 2010/2012. É editor e autor neste blog patrimoniotracional.blogspot.com.
Também sou apaixonado pelo carros de boi, sua história e festividades com esse nobre transporte que quase foi extinto. Recentemente lancei o livro “Festas de Carros de Boi” que vem de encontro a uma lacuna existente quanto aos assuntos abordados, a paixão pela nossa cultura e pelo carro de boi. Pois, muitos pensavam que, com os meios de transportes modernos e evolução tecnológica, os carros de boi e as suas cantigas peculiares iriam desaparecer, e só os encontrariam em museus, telas de pinturas ou esquecidos em fazendas antigas. Contudo, ocorreu uma reinvenção para o uso dos carros de boi, saíram do labutar para o festejar. Neste trabalho o autor mergulha na sua história, na cultura de um povo, e com riqueza de detalhes e fotografias, mostra o porquê das Festas de Carros de Boi fazerem parte do calendário cívico de algumas cidades Brasileiras. Especialmente, por encantar todos os participantes e visitantes de vários lugares do Brasil e do exterior, independente do sexo e idade. É paixão a primeira vista, seja pela cultura, pela tradição, por curiosidade, pelo festar e por ter se tornado um acontecimento histórico.
ResponderExcluirPara divulgar festas de carros de boi e pesquisá-las criei alguns blogs, convido você e seus leitores para conhecê-los:
Rogério Corrêa
http://rogerioscorrea.blogspot.com/
http://festadocarrodebois.blogspot.com/
http://carrodebois.wordpress.com
http://ocarrodeboi.blogspot.com/
rogerioscorrea@gmail.com